Eficácia da enrofloxacina no tratamento de tristeza parasitária bovina (anaplasmose)

Autor: Rodrigo Nunes – consultor técnico – bovinos – Bayer – Technical Consultant – Farm animal products

A tristeza parasitária bovina (TPB) é um complexo de doenças causadas por Anaplasma, Babesia. No Brasil, os principais agentes etiológicos da TPB são o Anaplasma marginale, a Babesia bovis e a Babesia bigemina, sendo a transmissão feita por carrapatos e moscas hematófagas. A TPB causa enormes danos à pecuária, tais como: alta taxa de mortalidade, atraso no desenvolvimento dos animais, e altos gastos financeiros.

A anaplasmose bovina é uma doença causada principalmente por Anaplasma marginale, sendo caracterizada por anemia progressiva, onde geralmente se encontra o animal com a cabeça baixa e orelhas caídas, e quase sempre afastado dos demais animais do grupo. No estado de Minas Gerais, a anaplasmose bovina tem sido considerada uma das mais importantes doenças na pecuária, constituindo um dos fatores limitantes à criação de bezerros.

O Anaplasma marginale  é transmitida biológica por carrapatos (R. microplus) , e de forma mecanica são insetos hematófagos (moscas) e todo material que entra em contato com o sangue de animais infectados, principalmente agulhas, pode constituir uma fonte de transmissão para outros animais. Estas determina o aparecimento de formas clínicas aguda, superaguda, leve e/ou crônica, com um período pré-patente de 20 a 40 dias seguido por parasitemia e intensa anemia.
A Tristeza Parasitária Bovina é considerada endêmica na maior parte do território Brasileiro, pois nossa localização (entre os paralelos 32 e com altitudes inferiores a 1200 m) são favoráveis ao desenvolvimento dos vetores, está  distribuída nas regiões tropicais, subtropicais e temperadas do mundo.
Animais muito jovens já podem manifestar a doença (12 a 25 dias de vida). Porém, nesta fase a manifestação é mais branda devido à proteção via imunidade passiva (mãe – colostro – amamentação). Assim, a manifestação em animais adultos é mais severa, agravando o processo quanto mais fraco o animal estiver.

Os principais sinais clínicos da anaplasmose em bovinos são: · Febre (39,6 a 40,5º C); debilidade, anemia (olho branco e boca branca), icterícia (em casos mais severos); desidratação, falta de apetite. Esta doença, que normalmente caracteriza a segunda etapa da Tristeza Parasitária Bovina, pode se manifestar independentemente da Babesiose.

Nos últimos 30 anos não foram desenvolvidas novas drogas para tratamento específico da anaplasmose bovina. As drogas oxitetraciclina e imidocarb ainda são frequentemente usadas, mas alguns estudos investigaram o uso da enrofloxacina para tratamento de animais que apresentam manifestações clínicas.

Como mostra abaixo estudo de Facury et al (2012), teve como objetivo avaliar a eficácia da enrofloxacina no tratamento de bezerros que apresentam anaplasmose aguda induzida experimentalmente. No trabalho, os bezerros com 90 dias foram divididos aleatoriamente em quatro grupos, cada qual com seis bezerros. Todos os animais foram inoculados via intravenosa com 3,6 × 107 eritrócitos parasitizados com isolado de UFMG2, amostra altamente virulenta de A. marginale (Genbank n° EU676175) que causa altas taxas de morbidade e mortalidade no gado susceptível (BASTOS ET al., 2010).

A figura1 mostra o comportamento da parasitemia relativa por Anaplasma marginale em bezerros inoculados experimentalmente e tratados com enrofloxacina uma dose no dia 0, tetraciclina uma dose no dia 0 e grupo controle inoculado não tratado.

                                      Parasitemia relativa por Anaplasma Marginale

Figura 1. Rickettsemia por Anaplasma marginale relativa em bezerros infectados experimentalmente tratados com enrofloxacina ou oxitetraciclina.

O trabalho mostra que no primeiro dia de tratamento (Dia 0), os animais inoculados com A. marginale tiveram aumento de temperatura corporal. Nos animais tratados com enrofloxacina (G1 e G2) houve retorno das temperaturas corporais para o nível normal no Dia 4 e 5, respectivamente, após o tratamento e os tratados com oxitetraciclina, temperaturas corporais normais foram observadas no Dia 11. Estes dados têm relação direta com a rickettsemia, pois confirmam que os grupos tratados com enrofloxacina apresentaram diminuição mais rápida da rickettsemia e um período mais curto de hipertermia do que os que receberam oxitetraciclina (figura 2).

Figura 2. Alterações do Volume Globular em bezerros que apresentam infecção por Anaplasma marginale induzida experimentalmente após o tratamento com enrofloxacina ou oxitetraciclina.

O retorno à temperatura corporal normal é importante para recuperação do animal, com diminuição da apatia e aumento da ingestão de alimentos sólidos e água.

Em resumo, a administração de dose única de enrofloxacina (7,5 mg.kg–1) foi eficaz no tratamento da anaplasmose aguda. A enrofloxacina foi mais eficaz que a oxitetraciclina devido ao seu melhor controle das infecções por rickettsia causadas pelo A. marginale e recuperação clínica mais rápida.

 

Referências:

“Eficácia da enrofloxacina no tratamento da anaplasmose bovina induzida experimentalmente” Elias Jorge Facury-Filho1; Antônio Último de Carvalho1; Paulo Marcos Ferreira1; Marcelo Fonseca Moura1; Bethania Campos Apolinário1; Leandro de Paula Henrique Santos1; Múcio Flávio Barbosa Ribeiro2* 1Departamento de Clínica e Cirurgia Veterinária, Escola Veterinária de Minas Gerais, Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG

2Departamento de Parasitologia, Instituto de Ciências Biológicas – ICB, Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG Rev. Bras. Parasitol. Vet., Jaboticabal, v. 21, n. 1, p. 1-5, jan.-mar. 2012. Artigo disponível em:  http://conteudo.bayer.com.br/newsletter/2014/bayer-vet-ah-bovino/eficacia-anaplasma.pdf

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